Uma realidade!
Transgredir a regra,
Na trégua dos afazeres.
Esquecer a régua
Que normatiza os deveres.
Pular sem saber onde cair,
Subir até onde não há chão,
Não devia existir prisão,
Que te fizesse fingir.
Porém pouca verdade resta,
E não há aresta,
Vértice plano ou ponto,
Que me faça dizer,
Mas se pressionar eu conto.
Tudo que queres saber
Sobre a vida, a melodia e a morte,
e tudo que queres dizer do sonho que te deu calote
Falarei e ouvirei,
E não digas que foi pouco,
Pois não tens tal direito.
Nem no dia em que for eleito
Chefe da própria vida.
Eu era muito otário,
Achava que tudo conseguia.
Já faz muito tempo, quem diria
Que foi semana passada?
Displicentemente o medo consome,
Concomitantemente a coragem some,
E eu que antes herói,
Agora homem,
Vivo sem pão, sem teto, sem nome.
E hoje, meu caro ego,
Cansei e a ti entrego,
A rua e a praça são tuas,
Deixei a verdade toda nua,
Verdade antes travestida de beleza,
Com um copo de cachaça na mesa,
Embriago à vida!
– Carlos Gomes.